Toda quinta-feira, às 18hs, na Rádio UFMG Educativa tem Óbvio Ululante, o programa sobre futebol da Rádio, do qual eu tenho a honra de participar. É uma preciosa hora para tratar de uma semana inteira de futebol mundo afora. O que fica de fora vem pra cá.

Semana passada quis fazer uma homenagem à um dos meus maiores ídolos no futebol, o grande Alessandro Del Piero. Foi na quinta-feira após seu último jogo pelo campeonato italiano, e antes do último pela final da copa da Itália,perdida sem que ele fizesse ao menos um gol (mas como foi para o Napoli, que volta a ganhar a copa desde 1987 com o Maradona, não foi assim tão lamentável).

Não há nada mais raro no futebol do que um camarada conseguir se manter em nível mundial até o último jogo de sua vida. Os exemplos se contam em uma(s três) mão(s): Zidane, Cafú, van Basten, Scholes, Verón, Marcos… Se vê como isso é difícil pelo fato de que vários dos maiores de todos os tempos não conseguiram fazê-lo. Pelé, Beckenbauer, Cruyff, Maradona, Di Stéfano, Romário… todos tiveram fins de carreira duvidosos. Sem falar em casos deprimentes como Garrincha e George Best.

Del Piero levanta mais um título italiano em sua última temporada, inclusive fazendo gol na última partida. Quando soube da aposentadoria, nas últimas semanas, quis dar um conselho ao craque da camisa 10 (Viva Sílvio Luiz): Tenta aguentar mais uma temporada porque ao invés de parar sendo campeão nacional, você pode parar sendo campeão continental!

Mas o Del Piero não me escuta…

Depois eu fui saber que a iniciativa partiu da Juventus. Eles que não ofereceram uma renovação de contrato. Mas sobre as chances da Juve na Copa dos Campeões, quem quiser apostar, estamos aí.

Vindo do Padova em 1993, Del Piero foi campeão italiano em sua segunda temporada, campeão europeu na terceira, com

Juventus campeã europeia de 1996

Na final, venceram algumas lendas como van der Sar, de Boer, Finidi, de Boer, Litmanen, Kluivert, entre outros. Foi a 1ª de 3 finais consecutivas da Juventus. Borussia Dortmund e Real Madrid evitaram o 2º título de Del Piero, assim como o Milan em 2003, mas não evitaram que ele fosse artilheiro da edição de 98.

Já o 1º título italiano foi seguido por outros 7, dois dos quais foram retirados da Juventus após o escândalo da armação de resultados em 2006. Como punição o time foi rebaixado à 2ª divisão pela primeira vez em sua história centenária. Del Piero liderou o movimento para que os jogadores continuassem no clube e levassem-no de volta à Serie A. Trezeguet, Nedved, Camoranesi e Buffon atenderam ao chamado. Cannavaro, Thuram, Vieira, Emerson, Zambrotta e Ibrahimovic foram embora. Ainda assim a Juventus não teve problemas para subir, mas foram 5 anos para reconstruir um time que estivesse à altura da história da Vecchia Signora.

Em toda essa trajetória com o time de Turim, Del Piero se tornou um dos maiores símbolos de toda a história do clube. Recorde de jogos disputados e gols marcados. São 705 jogos, 153 a mais do que os 552 de Gaetano Scirea, segundo colocado. Foram 289 gols, 107 a mais do que os 182 da lenda Giampiero Boniperti.

Na seleção italiana Del Piero também marcou história. Entre as Eurocopas de 96 e 2008 a Itália não disputou um grande torneio sem Del Piero. Foram 27 gols em 91 jogos, ainda que vários técnicos não tenham se convencido de que ele merecia ser titular. Em 1998, por exemplo, Cesare Maldini não achava que Del Piero e Roberto Baggio poderiam jogar no mesmo time. Na Copa de 2002, com Trapattoni, a Azzurra só tinha espaço para 2 jogadores ofensivos, que foram Totti e Vieri. Del Piero começou como substituto. No jogo contra o México a Itália ia dando adeus quando Del Piero entrou e marcou o gol da classificação. Eu vi esse jogo mas não me lembrava disso. A única lembrança que eu tinha desse jogo é da reação da torcida (no Japão) quando subiu a placa com o número 7 (10 na Juventus, 7 na seleção italiana): Comemoraram como se fosse um gol! Uma coisa além do normal mesmo.

Seu lugar entre os campeões mundiais foi garantido em 2006. Em uma campanha marcada pela coletividade, na qual todos os jogadores convocados entraram em campo com exceção dos 2 goleiros reservas, na qual os gols foram tão bem distribuídos entre os jogadores (apenas Materazzi e Luca Toni marcaram 2) a participação de Del Piero não deve ser minimizada: 3 jogos como substituto, 1 como titular e um gol na semi-final contra a Alemanha.

Mas Del Piero chegou ao auge de seu futebol em 98 mesmo. Foi artilheiro da Copa dos Campeões, campeão italiano, levou a Juve à final do europeu contra o Real Madrid com o melhor time em que jogou em sua carreira:

Na final esteve Mark Iuliano no lugar de Ferrara, lesionado

O Real Madrid acabou vencendo por 1 a 0. Ao longo da temporada 1997/98, jogando pela Inter de Milão, Ronaldo começou a ser chamado de fenômeno. A torcida da Juventus, acompanhando o que seu camisa 10 fazia semanalmente no Delle Alpi, passou a chamar Alessandro Del Piero de Il Vero Fenomeno.

Clubes nas Copas

maio 5, 2010

Times que serviram de base para seleções que fizeram história em Copas do Mundo

HONVÉD/ HUNGRIA de 54

Em 1949 Gusztav Sebes era Ministro do esporte e técnico da seleção da Hungria quando assumiu o controle do Honved, o time do exército húngaro. A equipe já contava com Puskas e Bozsik. Para transformá-la na base da seleção, Sebes recrutou Kocsis, Czibor, Budai, Lorant e Grosics de outros times húngaros. Tanto entrosamento resultou no maior saldo de gols (17) e maior número de gols marcados (27) de uma Copa do Mundo.

AJAX/ HOLANDA de 74

Entre 1965 e 71 o técnico Rinus Michels desenvolveu no Ajax o Futebol Total. Bastou vestir Johan Cruyff, Johan Neeskens, Ruud Krol, John Rep, Arie Haan e Win Suurbier de laranja e metade do time holandês para a Copa de 74 estava pronto. Faltaram à Laranja Mecânica os títulos que sobraram ao Ajax: 4 nacionais, 3 europeus consecutivos e um mundial. Ao lado da Hungria de 54 é lembrado como o melhor time a não ganhar uma Copa.

BAYERN DE MUNIQUE/ ALEMANHA de 74

A dinastia do Ajax foi sucedida pela do Bayern de Munique, campeão europeu de 74, 75 e 76. A passagem do cetro aconteceu no Estádio Olímpico de Munique, quando Sepp Maier, Paul Breitner, Gerd Muller, Franz Beckenbauer, Uli Hoeness e Hans-Jorg Schwarzenbeck venceram a Holanda na final da Copa do Mundo, pouco mais de um mês após a conquista do campeonato europeu. Os 3 gols do jogo foram marcados por atletas do Bayern ou do Ajax.

RIVER PLATE/ ARGENTINA de 78

Campeão argentino de 75 e 77, finalista da Libertadores de 76, o River teve 5 jogadores no plantel argentino, alguns com papeis fundamentais para a conquista do mundial: o goleiro Fillol e o capitão Passarella disputaram cada minuto dos 7 jogos. O atacante Luque foi vice-artilheiro do time e o meia Ortiz ganhou titularidade nos jogos decisivos. Já o meia Alonso foi convocado apenas por pressão de membros da ditadura.

JUVENTUS/ ITÁLIA de 82

Assim como em 82, a Itália vai para a Copa de 2010 com o goleiro, os dois zagueiros e o lateral esquerdo da Juventus. Os lugares que hoje são de Buffon, Cannavaro, Chiellini e Grosso, há 28 anos eram de Dino Zoff, Gentile, Scirea e Cabrini. Para a campanha do tri a Juve cedeu ainda o meia Marco Tardelli e nosso querido Paolo Rossi. 9 dos 12 gols italianos naquele mundial foram marcados por jogadores bianconeri.

PS.: Uma versão desse texto pode ser encontrada na página 94 da revista Placar de maio de 2010.