Além do Óbvio – Del Piero

maio 26, 2012

Toda quinta-feira, às 18hs, na Rádio UFMG Educativa tem Óbvio Ululante, o programa sobre futebol da Rádio, do qual eu tenho a honra de participar. É uma preciosa hora para tratar de uma semana inteira de futebol mundo afora. O que fica de fora vem pra cá.

Semana passada quis fazer uma homenagem à um dos meus maiores ídolos no futebol, o grande Alessandro Del Piero. Foi na quinta-feira após seu último jogo pelo campeonato italiano, e antes do último pela final da copa da Itália,perdida sem que ele fizesse ao menos um gol (mas como foi para o Napoli, que volta a ganhar a copa desde 1987 com o Maradona, não foi assim tão lamentável).

Não há nada mais raro no futebol do que um camarada conseguir se manter em nível mundial até o último jogo de sua vida. Os exemplos se contam em uma(s três) mão(s): Zidane, Cafú, van Basten, Scholes, Verón, Marcos… Se vê como isso é difícil pelo fato de que vários dos maiores de todos os tempos não conseguiram fazê-lo. Pelé, Beckenbauer, Cruyff, Maradona, Di Stéfano, Romário… todos tiveram fins de carreira duvidosos. Sem falar em casos deprimentes como Garrincha e George Best.

Del Piero levanta mais um título italiano em sua última temporada, inclusive fazendo gol na última partida. Quando soube da aposentadoria, nas últimas semanas, quis dar um conselho ao craque da camisa 10 (Viva Sílvio Luiz): Tenta aguentar mais uma temporada porque ao invés de parar sendo campeão nacional, você pode parar sendo campeão continental!

Mas o Del Piero não me escuta…

Depois eu fui saber que a iniciativa partiu da Juventus. Eles que não ofereceram uma renovação de contrato. Mas sobre as chances da Juve na Copa dos Campeões, quem quiser apostar, estamos aí.

Vindo do Padova em 1993, Del Piero foi campeão italiano em sua segunda temporada, campeão europeu na terceira, com

Juventus campeã europeia de 1996

Na final, venceram algumas lendas como van der Sar, de Boer, Finidi, de Boer, Litmanen, Kluivert, entre outros. Foi a 1ª de 3 finais consecutivas da Juventus. Borussia Dortmund e Real Madrid evitaram o 2º título de Del Piero, assim como o Milan em 2003, mas não evitaram que ele fosse artilheiro da edição de 98.

Já o 1º título italiano foi seguido por outros 7, dois dos quais foram retirados da Juventus após o escândalo da armação de resultados em 2006. Como punição o time foi rebaixado à 2ª divisão pela primeira vez em sua história centenária. Del Piero liderou o movimento para que os jogadores continuassem no clube e levassem-no de volta à Serie A. Trezeguet, Nedved, Camoranesi e Buffon atenderam ao chamado. Cannavaro, Thuram, Vieira, Emerson, Zambrotta e Ibrahimovic foram embora. Ainda assim a Juventus não teve problemas para subir, mas foram 5 anos para reconstruir um time que estivesse à altura da história da Vecchia Signora.

Em toda essa trajetória com o time de Turim, Del Piero se tornou um dos maiores símbolos de toda a história do clube. Recorde de jogos disputados e gols marcados. São 705 jogos, 153 a mais do que os 552 de Gaetano Scirea, segundo colocado. Foram 289 gols, 107 a mais do que os 182 da lenda Giampiero Boniperti.

Na seleção italiana Del Piero também marcou história. Entre as Eurocopas de 96 e 2008 a Itália não disputou um grande torneio sem Del Piero. Foram 27 gols em 91 jogos, ainda que vários técnicos não tenham se convencido de que ele merecia ser titular. Em 1998, por exemplo, Cesare Maldini não achava que Del Piero e Roberto Baggio poderiam jogar no mesmo time. Na Copa de 2002, com Trapattoni, a Azzurra só tinha espaço para 2 jogadores ofensivos, que foram Totti e Vieri. Del Piero começou como substituto. No jogo contra o México a Itália ia dando adeus quando Del Piero entrou e marcou o gol da classificação. Eu vi esse jogo mas não me lembrava disso. A única lembrança que eu tinha desse jogo é da reação da torcida (no Japão) quando subiu a placa com o número 7 (10 na Juventus, 7 na seleção italiana): Comemoraram como se fosse um gol! Uma coisa além do normal mesmo.

Seu lugar entre os campeões mundiais foi garantido em 2006. Em uma campanha marcada pela coletividade, na qual todos os jogadores convocados entraram em campo com exceção dos 2 goleiros reservas, na qual os gols foram tão bem distribuídos entre os jogadores (apenas Materazzi e Luca Toni marcaram 2) a participação de Del Piero não deve ser minimizada: 3 jogos como substituto, 1 como titular e um gol na semi-final contra a Alemanha.

Mas Del Piero chegou ao auge de seu futebol em 98 mesmo. Foi artilheiro da Copa dos Campeões, campeão italiano, levou a Juve à final do europeu contra o Real Madrid com o melhor time em que jogou em sua carreira:

Na final esteve Mark Iuliano no lugar de Ferrara, lesionado

O Real Madrid acabou vencendo por 1 a 0. Ao longo da temporada 1997/98, jogando pela Inter de Milão, Ronaldo começou a ser chamado de fenômeno. A torcida da Juventus, acompanhando o que seu camisa 10 fazia semanalmente no Delle Alpi, passou a chamar Alessandro Del Piero de Il Vero Fenomeno.

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